Um livro de memórias escrito por um adolescente e adotado por uma tradicional escola de Campo Grande (MS) para crianças de dez anos de idade vem gerando polêmica entre pais de alunos e educadores e se tornou tema de discursos acalorados na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
O motivo são palavrões ("porra", "merda", "caralho", entre outros) e expressões tidas pelos críticos como "preconceituosas" e "inadequadas" presentes nas pouco mais de 200 páginas de "Dia 4", escrito por Vithor Torres, 16, um aluno da CNEC (Campanha Nacional das Escolas da Comunidade) Oliva Enciso, mesma escola onde surgiu a polêmica.
Escrita em primeira pessoa, a obra relata impressões do autor ao longo de uma viagem de ônibus entre Campo Grande e São Paulo. Os trechos polêmicos, em geral, são comentários a respeito da roupa ou do comportamento de outros passageiros que seguiam viagem.
"(...) Até o mais idiota dos seres consegue reconhecer uma prostituta. No caso eram duas. Como sabia que elas eram putas? Muito simples. Uma "profissional do sexo' se veste apenas de duas formas: extravagantemente ou quase sem roupa", diz um trecho do livro.
A publicitária Ângela Gouveia disse à Folha que se surpreendeu ao folhear o livro que a sobrinha de dez anos iria usar na escola. "Não é falso moralismo nem hipocrisia ou puritanismo de minha parte. Só não vejo onde isso pode agregar valores às crianças em sua formação."
O deputado Marquinhos Trad (PMDB) discutiu o tema no plenário da Assembleia Legislativa e defendeu que o caso seja levado como denúncia à comissão de educação da Congresso Nacional. Em entrevista à Folha, se disse "constrangido". "Se não fizermos nada, o próximo livro de pré-alfabetização será o da Bruna Surfistinha."
Outro deputado, Professor Rinaldo (PSDB), inseriu o livro no "contexto da deturpação mundial". "O mundo caminha para o caos. É homem querendo casar com homem, aborto, e agora vem um livro como este para nossas crianças. Ninguém respeita mais ninguém."
A escola emitiu nota na qual disse que o livro não será objeto de uma "leitura irresponsável, solta e descontextualizada". "A linguagem do texto do autor flui naturalmente, e em alguns momentos o narrador extravasa toda a sua frustração ante os problemas pelos quais está passando", diz a nota. "Daí registra-se, em determinados momentos, alguns xingamentos ou palavras vulgares colocados no texto."
À Folha, o autor disse que não "tinha noção" do impacto que seu livro teria. "Muita gente criticou sem ler. Preferiram destacar frases soltas e fora do contexto. Mas não me abalo. Quero continuar escrevendo."
Enquanto finaliza um novo romance, Torres agora prepara uma até então inimaginável segundo edição de "Dia 4" --a primeira, com 250 exemplares, teve 25% do custo de impressão bancado por doações de pais de alunos. "Com a polêmica, muita gente me procurou para adquirir uma cópia e me incentivando a continuar."
► No Brasil eu não duvido mais de nada...
2 comentários:
WTF....depois vira todo mundo corintiano, e o brasil vai se perguntar no futuro..."onde foi que erramos??"
=/
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