domingo, 4 de setembro de 2011

• Não existe amor em SP

O novo RAP paulistano




"Não Existe Amor em SP"
(letras e música: Criolo)
Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro tuas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus

*

Acredite nesse 'hype'

Para o bem do próprio rap, é preciso contradizer um de seus maiores hinos: "Don't Believe the Hype", do Public Enemy.

Isso porque, para além do "hype", de ser o atual objeto do desejo, na carne e na música, MC Criolo tem, sim, o que dizer e mostrar.

Ele fez as escolhas certas -- líricas, sonoras e de estilo -- no momento certo, após 23 anos de uma carreira obscura em um gênero cercado de preconceitos.

Enquanto o rap é fonte primordial da música pop norte-americana há pelo menos dez anos, o Brasil só agora flerta com a possibilidade de democratizá-lo. E Criolo faz parte desse movimento ao criar uma ponte entre periferia e centro, pretos e brancos, manos e hipsters.
De um lado da ponte, suas letras ampliam o repertório do rap ao extrapolar o conteúdo de denúncia social. Por isso, do outro lado da ponte, elas não são mero objeto de sociologismos.

O artista usa a linguagem cifrada dos MCs. Mas, quando temas característicos do rap nacional, como o crime e a desigualdade, dividem estrofes com a solidão na metrópole e o amor não correspondido, fica fácil penetrar no seu dialeto. O discurso se torna universal.
Essa política de inclusão lírica é também musical. "Nó na Orelha", disco de 2011 que consagrou Criolo, intercala samba, reggae e bolero às faixas de rap com produção de qualidade inédita no gênero, a cargo de Daniel Ganjaman.

E houve um elemento crucial para que as escolhas certas e o momento certo, de fato, funcionassem: carisma.

Boa-pinta e bem-humorado, Criolo não precisa posar de mau e intimidar. Ri, sorri, brinca, corre e dança em suas apresentações ao vivo. Sua atitude, apesar de um tanto combativa, é também festiva.

Se para toda regra existe uma exceção, o decreto que o Public Enemy fez nos anos 1980 parece ter encontrado a sua. É possível acreditar no "hype".
FERNANDA MENA, editora da Ilustrada

Ainda existe amor em SP


Um comentário:

SuperMouse disse...

Pô Dennyswaldo... Eu to querendo mudar - mas qdo vejo essas parada de Sampa, dá aperto no coração

 

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