segunda-feira, 16 de agosto de 2010

• Como os Beatles criaram

Yellow Submarine

Uma história fantástica. Tem coisa que você só vê na Zona.

- John, nunca mais fala uma merda dessa, por favor!

Calmo, John puxava seu baseadinho...

- Ah, foda-se, Paul. É verdade, oras... Pelo menos aqui na Inglaterra. Jesus Cristo é o número 2 em popularidade. Queira a Igreja ou não.

- E nós seremos os primeiros em impopularidade se você continuar com essa gracinha.

George dá seu pitaco:

- Pô Paul, mas veja só, o John tem até argumentos... sabe...

Paul interrompe, nervoso:

- O John ta mudando. Daqui a pouco vai trocar essas loiras peitudas e gostosas que correm atrás de nós por uma mocréia oriental ou coisa parecida. Acredite, ele está enlouquecendo com esse sucesso.

John já não ouve, está na sacada puxando seu baseado e olhando o Tâmisa. George ri:

- Ele pode ser louco, mas não é burro, pra pegar uma mocréia... Hehehe... O que você acha, Ringo?

Ringo estava deitado no divã daquele imenso quarto de hotel em Londres. Soltou umas baforadas, ajeitou a franja e disse por baixo do narigão:

- Eu acho que... Sei lá... Esse papo de Jesus, tipo assim, to pouco me fodendo quem é mais... Eu sei é que a gente tá podendo, saca? Se a gente gravar uma música merda, tipo, sei lá, música de igreja ou contos infantis pervertidos, se fizermos coisas ridículas, não vai mais importar. Aquelas loucas peitudas lá embaixo vão continuar invadindo nossos hotéis, gritando feito loucas, e comprando todos os discos...

- Porra, peraí, narigudo - interrompeu Paul. Aí já é exagero. Quem iria acreditar nisso?

Calminho, John volta da sacada e desafia:

- Aposto que o narigudo está certo.

- Não estou dizendo, amigo? diz Paul, cutucando George. Você aposta o quê, John?

- Se nós fizéssemos uma musiquinha de merda, bem idiota, mesmo que ela fosse absurdamente ridícula, nós poderíamos cantá-la e receber os melhores aplausos, elogios, prêmios, primeiro lugar nas paradas... Será um sucesso. Se nós arrotarmos e peidarmos no palco as meninas continuarão gritando e nos adorando e nos imitando. Somos o maior sucesso, Paul, não importa mais o que nós fazemos.

- Isso não está acontecendo, John, e jamais vai acontecer. Você está louco?

- Quer apostar, Paul? Valendo uma graninha?

- George, o que você acha?

- Sabe, Paul... Dependendo do que exatamente o John chama de música ridícula, acho que até pode acontecer... Mas é relativo, não sei...

- Qual é, Paul, vai apostar ou não? Eu e o Ringo contra você e o George.

Vamos fazer uma música tão ridícula que você vai se cagar de rir, enquanto as fãs e a crítica vão adorar e alçar ao topo da parada...

- Loucura. Impossível.

- Você é homem de apostar ou não? Franguinho...

Silêncio. Paul aperta os olhos. Depois de alguns segundos em irado silêncio, sério, diz:

- Ok. Apostado. Uma canção com letra tão ridícula quanto uma canção infantil. Com arranjos desarranjados. E nada que lembre qualquer empolgação ou rock. Nada. E nós teremos que cantar todos os trechos aleatoriamente, sem ordem, como débeis mentais, principalmente no refrão. Tem que haver barulho ao fundo, e chacotas. E não pode ser curta.

- É, parece bem ridículo pra mim. E para você Ringo?

- Sei lá, sabe? Você é meio louco mesmo, John. Isso vai fazer sucesso? Tipo... Não mesmo... Hahaha... Mas como você apostou e você é quem vai pagar...

- Epa, isso é um ponto importante, interrompeu George. O que estamos apostando?

- É... John, Paul, o que vai ser?

John jogou uma revista de automóveis sobre Paul.

- Essa belezinha. Zero quilômetro.

Na capa, um Rolls-Royce último modelo. Paul riu:

- O John, num Rolls-Royce? Hahaha...Hahaha... Talvez nem seja tão ruim assim perder...

- E se você ganhar, Paul? O que vai ser?

- O John vai ter que comer uma mocréia. Eu escolho.

Risos gerais, dessa vez, até de John.

- Tipo assim, qual mocréia, Paul?

- Essa aqui ó, disse Paul, apontando para outra revista.

- "Íôkuônu"... Porra, essa é feia, hein... John, se fodeu!

- Eu? Vou é comer uma peituda, no final. Dentro do meu Rolls-Royce, certo, Paul?

Risos gerais... Paul sentencia, levantando-se para sair da sala:

- Só mais 2 coisas John: vocês 2 têm 2 dias para fazer a música e a letra. E nem um minuto a mais. OK?

- OK, sir McCartney. E a segunda?

- Ringo vai cantar, e não você.

John parou. Empalicideceu. Paul alfinetou:

- O que há, John? Não é homem pra apostar?

John engoliu em seco. Pensou em Ringo cantando. Pensou na aposta. Na mocréia japonesa. Por fim, no riso de Paul.

- Essa aposta está ganha. Vamos Ringo, temos trabalho.

E saiu da sala, seguido por preocupado Ringo.


* * *

A caminho do estúdio em Abbey Road, Ringo gaguejava. John suava. Dirigia nervoso. Ringo não cantava porra nenhuma. Tinha uma voz horrível. Por isso a banda sempre evitou que ele abrisse a boca, nem que fosse como 2a ou 3a voz. Nunca. Ringo cantava mal pra caralho. "Estou fodido" pensou John. "O John se fodeu" pensava Ringo.

- Olha só, Ringo, eu confio muito em você. Fica aí no estúdio e te vira. Eu vou resolver um negócio, e depois a gente trabalha no que você tiver começado...

- Mas John, eu nunca compus porra nenhuma... Eu pensei que você fosse...

- Ringo... Relaxa... Eu confio em você...

- É, o Paul estava certo... Você é doido mesmo, John...

John despediu-se de Ringo, nervoso, e instruiu o motorista do táxi:

- Royal Museum of Modern Art, por favor.

- Gosta de arte abstrata, sr. Lennon?

- Um pouco, por quê?

- Há uma exposição esta semana no Royal Museum.

- Interessante. Mas estou indo apenas conhecer uma pessoa. Já que a aposta está nas mãos do Ringo...

- Como disse, sr. Lennon?

- Nada... Esqueça... Eu já tô fodido mesmo, então é melhor eu ir conhecendo logo minha desgraça.

- Como quiser, sr. Lennon.

* * *

Royal Museum of Modern Art. O porteiro, um gordinho simpático, não reconhece John, mas pergunta, prestativo, se pode ajudá-lo.

- Estou procurando uma artista, a senhorita Ono...

- Oh, sim, ela está arrumando algumas peças para a exposição desta noite. No segundo salão à direita, sr.

- Obrigado.

"Como é feia", pensou Lennon. Mas aposta é aposta. E como essa já estava perdida. Idiota. Tudo para não amarelar diante do bosta do Paul e do lindo do George. Mas como ele iria adivinhar que Ringo teria que cantar. Isso sim, era impossível de ser sucesso.

- Senhorita Ono?

- Sim? Oh, eu conheço você...

- Talvez. Está ocupada?

- Estava. Não mais. O que há?

- Gostaria de tomar uma cerveja?

- Claro.

* * *

"Ai meu Deus eu to fodido", repetia Ringo, bem baixinho, com a cabeça vazia sobre o pescoço e um inútil violão sobre o colo. Os produtores que circulavam pelo estúdio encaravam-no como uma aberração esperando o apocalipse. Ringo havia agendado uma gravação. Apareceu sozinho, e agora estava ali, mudo, há horas. "Lennon de merda", resmungava Ringo. Alguém fez sinal na outra sala. Ringo disse-lhe que entrasse.

- Sr. Star, esse tape super8 chegou hoje. É da sua mãe.

- Mais essa agora...

Na falta total de inspiração, Ringo pediu um projetor e menos luz naquela sala. "Vamos ver que mico mamãe me aprontou agora." Na tela, uma senhora nariguda aparecia, cercada por toda família, com destaque para os vinte dois netos, sobrinhos de Ringo, que se amontoavam em frente a ela.

- Meu pequeno Ringo, seu tio David comprou esta divertida câmera e nós resolvemos lhe fazer esta surpresa. Como no seu último telefonema você disse que sentia muita falta de quando eu cantava para você dormir, resolvi juntar todos para lhe entoar esta singela canção de ninar. Espero que você goste. "Merda, mamãe, merda", Ringo pensou, vermelho. A essa altura todo o estúdio ria loucamente dele, enquanto este procurava um buraco pra enfiar a cabeça... De repente, desafinadamente, fora de tom e de sincronia, com o horrível som do superoito, os sobrinhos de Ringo
começaram a cantar. Ringo não acreditou. Começou a sorrir.

Um brilho louco apareceu no seu olhar.

* * *

Paul estava de toalhas, saindo do banho, quando Ringo invadiu o quarto do Hotel aos gritos e risos, entrecortados por um "Se fodeu, Paul!!!". Paul ficou sério, George desconfiado. Ringo sentenciou: "Eu tenho a música." Paul não acreditou.

- Amanhã nós vamos gravar, no Abbey Road. Está tudo certo, terminou Ringo, jogando-se no sofá para enrolar um baseado.

- E onde está John? perguntou Paul.

- Ele, hã... foi... hã... comprar umas cervejas...


* * *

John e Yoko transavam loucamente, pela sexta vez na tarde, num quarto de um motel na periferia de Londres. John estava decidido. Foda-se aposta. Ok, vai ser uma merda desfilar com essa mocréia por aí, mas ela transa muito gostoso, e sabe tudo do Kama Sutra. E é inteligente. Porra, eu também já estou ficando velho. É a mulher da minha vida.

* * *

Após o fim da gravação, John estava convicto que aquela porcaria de música iria ser um fracasso. Paul ria o tempo todo, e sabia que John estava fodido.

Ringo estava sério, um pouco infantil, mas sério. George ria disfarçadamente.

* * *

Paul se cagou de rir quando Yoko entrou na sala. Minutos antes, John havia anunciado que sabia que a música iria ser uma merda, que por isso estava cumprindo sua parte. Ringo fez cara feia.

* * *

Só que Yellow Submarine, apesar de ridícula, foi um dos maiores sucessos dos Beatles. E John ganhou um belo Rolls-Royce. No jardim, pelado com Yoko, olhava o carro enquanto desembalava umas pastilhas de LSD.

- Não gostei da porra da cor, Yoko - disse, pondo a pastilha sobre a língua.

- Ok. A gente pinta ele diferente. Tenho uns materiais ali na garagem.

Naquele instante, os olhos de John foram invadidos pelo mais psicodélico brilho. E o resto da história vocês já sabem.

* * *


Sim, já que você vai se perguntar, Obladi-oblada também foi o triste produto de apostas entre os Beatles (revanche que Paul pediu a John), mas isso é outra
história e eu conto outro dia. It's Been A Hard Day's Night. Yeah.

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