• Que venham as burrinhas!

Ela pensa que parapeito é sutiã? Relaxe e se delicie com os dois neurônios da gata
Um texto de Cynara Menezes

Ah, as burrinhas... Generalizadas no imaginário como louras, podem ser morenas, gordas, magras, altas ­ as combinações são incalculáveis, principalmente para o cerebrozinho delas. E podem ser deliciosas. Três vivas às mulheres burras, que delas será o reino dos céus.

Imagina que na tua rede, numa festa, caiu um peixão. Vocês nem conversaram ainda, só estão curtindo aquela de "não pense, dance". Logo, resolve levá-la até o balcão do bar. Nessas horas, o homem quer impressionar com o que tem de melhor: o papo. Sim, me desculpem, rapazes, mas em vocês a burrice é imperdoável. Alguém disse, com sabedoria, que o ponto G, tão arduamente procurado nos recônditos femininos, na verdade está no ouvido.

Não há nada pior, até para uma burrinha, do que escutar algo do tipo: "Está desacompanhada?" Tampouco funcionam frases do gênero "Você já leu Palmeiras Selvagens, de William Faulkner?" no exato instante em que o DJ ataca de Sex Pistols. Aconteceu comigo, juro. Para minha sorte, ele desistiu no terceiro "Como?"

Mas ela transpira no vestido negro e te inspira. A música nem está tão alta assim, por que não arriscar uns versinhos? Ela te lembrou Rimbaud: "A estrela banhou de rosa tuas orelhas..." Orelhinhas lindas, aliás. "Você conhece Rimbaud?" E a gata: "Adoro as pinturas dele!" É então que você repara na pintinha.

De que vale um intelecto diante de uma pintinha grudada pouco acima do lábio superior de uma boca carnuda? A pintinha, para começar, é muito menos previsível. Que caprichos da genética fizeram-na pousar justamente ali? Você conclui que clonar pintinhas deveria ser mais importante do que replicar ovelhas, e fala para ela. Que sorri.

Bingo: um homem que sabe divertir as mulheres está com a vida ganha. Lembra de Jessica, a pin-up de Uma Cilada para Roger Rabbit? A certa altura, o detetive do filme pergunta o que uma gostosa daquelas faz com um coelho baixinho feito Roger. Jessica responde: "Ele me faz rir". O que nos leva de volta às mulheres burrinhas: elas gostam de sorrir. Algumas, inclusive, são engraçadíssimas.

Na verdade, quem mais odeia as burras são as próprias mulheres. E não acho difícil que, por mais inteligente que seja uma mulher, no fundo sinta uma pontinha de inveja delas. Talvez, ao querer ser sabida demais, a mulher perca um pouco daquela inocência, tão graciosa, que todas um dia tivemos.

Sabe-se lá por quê, todo homem gosta de ensinar coisas à sua parceira. É uma vantagem da burrinha: com ela, se tiver paciência, o cara tem um mundo de ensinamentos pela frente. A linha que separa a inteligência da cultura é muito tênue. Até que descubra se ela é de fato burra ou apenas inculta, já se passaram noites ótimas.

Apresentei a teoria dessa mulher naïve como a companheira ideal para um amigo. Ele ponderou que não dura muito tempo. E que virtuosismos cerebrais podem garantir que uma relação seja longa? Intensa enquanto dure, dizia o poeta que, antes de mim, argumentou ser a beleza fundamental, não os miolos.

Pegue uma burrinha para cuidar de vez em quando. Apresente-lhe Gilberto Freyre, Hobsbawm, o escambau. Leve-a para ver uma ópera e ache graça quando ela confundir o libreto com o menu. Dê a ela um intensivo de conhecimento, entre um beijo e outro na tal pintinha. Se não conseguir, pode deixá-la. Se conseguir, ela pode deixá-lo. Faz parte do jogo.

Quanto às mulheres, elas que se virem para resgatar essa burrice perdida. É preciso se desbeauvoirizar: Simone de Beauvoir, ídola das feministas, se roía de ciúmes ao ver o velho caolho do Sartre bancar o pé-de-valsa com suas pupilas. Sabiam?

Agora, se você topar com uma mulher linda e de Q.I. mais alto que o salto plataforma, está perdido, irmão. E se, além de tudo, ela ainda souber reconhecer, com seu olhar mais terno: "Não, não sei nada de Rimbaud..." Cuidado, você acaba de encontrar a mulher ideal. Nem Casanova resistiria ao aconchego.

► Pois que venham as burrinhas!